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Era véspera de Natal com a Criança Interior

Era véspera de Natal, e o mundo parecia envolto numa paz particular. As luzes nas janelas tremeluziam ao longe, como estrelas que desciam para beijar a terra, e o ar carregava aquele perfume frio e fresco de dezembro. Sentado num canto acolhedor, deixei que o espírito silencioso da noite se tornasse um manto sobre mim, aquecendo-me como um abraço. Então, com os olhos fechados, imaginei um círculo de luz branca a formar-se em meu redor — um círculo de proteção, um espaço que era só meu, onde nada podia entrar sem a minha permissão.

Dentro deste santuário de luz pura, sentia-me seguro, divinamente protegido, como se o próprio universo velasse por mim. Respirei fundo e, naquele momento, veio-me a vontade de convidar a minha criança interior a juntar-se a mim. Aquela criança, aquele fragmento meu que o tempo tinha guardado em algum lugar profundo, muito longe das exigências do mundo adulto.

Esperei, e aos poucos, ela apareceu. Era pequena e trazia as roupas de inverno de uma época distante, talvez uma camisola de lã grossa, umas calças simples, e botas que deixavam leves pegadas na neve imaginária. Os seus olhos brilhavam com uma curiosidade tímida, e no rosto trazia uma expressão de inocência, mas também de um desejo longamente guardado. Aproximou-se com passos pequenos e hesitantes, como se testasse o caminho, e eu abri os braços, convidando-a a sentar-se no meu colo.

Enquanto ela se aconchegava, senti uma mistura de nostalgia e de amor profundo. Olhei-a nos olhos e vi, refletida, uma ternura que parecia antiga e intocada, como uma recordação de um tempo em que o mundo era simples e mágico. A voz veio-me suave e hesitante: "Amo-te muito," sussurrei. "Desculpa por nem sempre ter estado presente, por ter deixado que a pressa e os deveres me afastassem de ti. Mas prometo-te que, a partir de agora, vou cuidar de ti, vou ouvir-te, vou dedicar-te tempo."

A criança sorriu com um brilho de esperança, como se eu tivesse acabado de lhe devolver algo precioso que ela julgara perdido. "Sabes," continuei, "és uma parte essencial da minha vida, e adoro-te exatamente como és." Senti então que uma paz inexplicável se espalhava dentro de mim, como se este reencontro fosse uma dádiva inesperada da noite de Natal, uma promessa de renascimento e de harmonia.

Perguntei-lhe se queria voltar comigo, se queria fazer parte do meu dia a dia, não apenas como uma memória, mas como uma presença viva e acolhida no meu coração. A criança assentiu com um sorriso, e foi então que a imaginei a tornar-se cada vez mais pequena, até caber na palma da minha mão. Com delicadeza, coloquei-a dentro do meu peito, no centro do meu coração, onde ela estaria sempre protegida, sempre amada.

Foi então que senti uma presença por detrás de mim, uma energia divina, suave e envolvente, que irradiava uma bondade imensa, um amor que transcendia tudo. Era como se o próprio Natal se manifestasse numa forma de luz invisível, envolvendo-me com braços invisíveis e transmitindo-me uma paz profunda. Este amor divino, incondicional e eterno, preencheu cada recanto do meu ser, como se eu próprio fosse parte de algo infinitamente maior e mais belo.

Permaneci ali, envolto nesta energia de amor, sentindo-me inteiro, em paz. Sabia que poderia regressar a este lugar sempre que quisesse e que, em cada véspera de Natal, em cada momento de recolhimento, esta criança e esta presença divina estariam sempre comigo, guiando-me, lembrando-me de que o verdadeiro milagre de Natal é este reencontro com o que há de mais puro em nós.

Abri os olhos e percebi que o mundo à minha volta parecia mais brilhante, como se as luzes de Natal piscassem com um fulgor renovado. E, com o coração leve, ergui-me, sabendo que a criança que eu fui e o amor que me rodeia viveriam comigo a cada instante, não apenas nesta noite sagrada, mas em todos os dias que ainda estavam por vir.

 

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